Brasília se preparava para mais um fim de semana comum, mas quem passava pela orla do Lago Paranoá naquela noite sentia algo diferente no ar. Um zumbido grave, quase tribal, vibrava nas árvores. A concha acústica, geralmente silenciosa e solene, pulsava como um coração recém-acordado. Lá dentro, um novo capítulo da música brasiliense estava começando a ser escrito.

O Porão do Rock nasceu ali, impulsionado por uma cooperativa de bandas que dividiam o mesmo porão na 207 Norte. De lá, vieram não só os riffs e ideias, mas também o espírito coletivo que marcou aquele encontro. A produção não economizou esforços. Um esquema de som e iluminação como poucos haviam visto na cidade tomou conta da concha. Tudo cronometrado, tudo na medida. Nos bastidores, uma equipe afiada de roadies se movimentava como se estivessem regendo um espetáculo invisível, garantindo que nenhuma banda perdesse seu momento sob os refletores.

Foram quatorze bandas se revezando no palco, preenchendo a noite com vozes, distorções e presença. A Rumbora, mesmo ausente fisicamente, fazia parte da história. Enquanto gravavam seu primeiro CD em estúdio, uma de suas músicas marcava presença na coletânea do festival.

Em volta do palco, o cenário era uma colagem viva da cultura independente: lanchonetes fumegando, bares improvisados, gente se lançando no bungee jumping, barracas vendendo CDs, fitas-demo, fanzines. A plateia circulava entre essas estações com olhos famintos por descoberta. Figuras lendárias como Elza Cohen, da Super Demo, e o produtor Tom Capone circulavam discretamente, atentos ao que surgia de novo nos acordes brasilienses.

Na plateia, havia vibração. No palco, entrega. E mesmo quando o ritmo baixava, o espírito coletivo sustentava a noite. No fundo, o que se viveu naquela concha acústica foi mais do que um show. Foi uma celebração do possível. Um encontro onde música, amizade e vontade de fazer diferente criaram um cenário que, por algumas horas, pareceu o lugar mais elétrico e vivo da capital.

Foi uma noite de equilíbrio perfeito.

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