Vida bandida
O grande destaque do Porão do Rock 2000 se chama Lobão. Pode parecer estranho eleger esse músico ao invés das atrações de sucesso comercial que se apresentaram no festival, como a banda Raimundos. Lobão é um dos ícones da música da década de 80 e tem fama de complicado - um adjetivo educado para defini-lo. Sobreviveu a década seguinte aos trancos e barrancos, protagonizando brigas homéricas com gravadoras, cenas de hostilidade no Rock in Rio 2 e ainda foi colocado na “geladeira” pela indústria. No final dos anos 90, Lobão mostrou que um bom marketing eleva a cena musical independente.
Utilizou estratégia de distribuição simples e eficaz quando disponibilizou a venda do seu mais recente trabalho A Vida é Doce, na Internet e nas bancas de revista. O disco tinha cópias numeradas e um preço mais acessível do que nas lojas especializadas. Lançou A Vida é Doce no Domingão do Faustão, falou “verdades” na ShowBizz, começou palestrar em universidades – resumindo – ocupou todos os espaços que conseguiu.
Se um dos objetivos do Porão é divulgar novas (e velhas) bandas independentes para os veículos de comunicação e público, Lobão foi espelho. Basta ler sua “cartilha” e saberá como sobreviver fora da indústria cultural. Afinal, o Porão é um grande festival assim como o Lobão é um artista de renome. O Porão privilegia o cenário independente, o Lobão é independente. A edição 2000 do Porão levou 130 mil pessoas ao estacionamento do Mané Garrincha, é aproximadamente o número de cópias que o disco A Vida é Doce vendeu em seis meses. Por último, Porão rima com Lobão.
Cerca de 30 mil pessoas esperaram até às 3h40 da madrugada congelada do dia 9 de julho de 2000 para ver a apresentação desse artista. Cantaram em coro sucessos como Vida Bandida e Rádio Blá, além de curtirem músicas novas até as 5h da manhã. E os Raimundos? Bom, mesmo com toda a divulgação e ser considerado um dos pilares da década de 90, os candangos atraíram a atenção de 20 mil na madrugada seguinte.