A ideia parecia ousada demais. Um festival de rock independente, em Brasília, ao ar livre, com estrutura profissional e line-up 100% local. Mas quando os primeiros equipamentos começaram a ser montados na concha acústica do Lago Paranoá, ficou claro que aquela ousadia era, na verdade, uma convicção.

Era a primeira edição do Porão do Rock e o espírito coletivo tomava forma. Catorze bandas estavam escaladas para subir ao palco. Todas nascidas na cena local, muitas delas acostumadas aos ensaios abafados no porão da 207 Norte, onde o festival começou a ganhar corpo entre uma batida e outra.

O local escolhido foi simbólico. A concha, voltada para o lago, abraçava o som como quem acolhe uma ideia nova. O espaço tinha sua beleza natural, mas também impunha desafios. Havia poucos banheiros e alguns carros foram arrombados, detalhes que, diante do todo, pareciam apenas lembretes de que se tratava de um movimento nascendo com garra, não com manual. E isso não tirou o brilho do que foi realizado ali.

O que impressionava mesmo era a estrutura. O palco bem montado, o som limpo e potente, a iluminação desenhando a noite como se ela tivesse coreografia própria. Quem ali estivesse, podia perceber que aquela produção não era feita por amadores — era feita por apaixonados.

E foi além do festival. O evento rendeu um CD com apoio do Prêmio Renato Russo, da Fundação Cultural. Foram mil e quinhentas cópias prensadas com registros das bandas participantes. Um retrato impresso de um momento que ainda reverbera.

A única ausência no palco ficou por conta da banda Rumbora, que estava em estúdio gravando seu primeiro álbum. Mesmo assim, marcou presença no disco, costurando a memória daquele ano com sua sonoridade inconfundível.

O Porão começava a escrever sua história. E quem viveu aquela edição inaugural, sabia: o que tinha nascido ali estava apenas começando a crescer.

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